Picasso, Mulher adormecida
O corpo humano é uma máquina sensível e insondável. Da primeira vez que tomei os ditos comprimidos, receitados pela médica (convém lembrar), além de ter perdido o apetite, é verdade, perdi também o sono e a faculdade de raciocionar claramente. Por isso, decidi parar de tomá-los durante cerca de um mês, em que precisava de ter as minha faculdades mentais o mais possível apuradas. Agora, ao retomá-los, o que é que acontece? Perco ainda o apetite, é verdade (creio que não tanto como da primeira vez), mas não páro de dormir. Ontem, por exemplo, deitei-me às onze e acordei hoje às dez da manhã, para me redeitar às onze e acordar às duas e meia da tarde... (E continuo cheia de sono, mesmo depois de um café.). É obra!
Mas é tão imensamente bom não ter compulsões! Passar por um pão de Mafra com indiferença, comer meia dúzia de amêndoas sem desejar o pacote inteiro. Como a minha vida seria tão mais simples se este estado me fosse natural...