quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A Albânia, enfim, o país onde não se avistam obesos.


Ir à Albânia foi uma (grande) vontade minha, contra a vontade de todos. Antes de irmos para a Croácia, pesquisei, sozinha, os mapas, as possibilidades de fronteira, os fóruns de viajantes, as opiniões várias sobre as condições de segurança. O que queria mesmo era ir até Tirana, a capital, a não mais de 400 quilómetros de Dubroknik. Mas isso foi antes de saber o quanto os quilómetros, por aquelas bandas, são imensas cadeias de curvas fechadas e infindáveis (curva em croata diz-se "serpentina", olha que apropriado). O funcionário da empresa que nos alugou o carro mentiu-nos, dizendo que não tínhamos autorização para circular na Albânia (o que depois a própria carta verde do veículo desmentia).

Entrei, pois, na Albânia com a fresca e leve abertura de espírito ao desconhecido do meu ascendente Gémeos. Sabia apenas que se tratava do país mais pobre da Europa, cujas fronteiras estiveram fechadas até ao início dos anos 90, à conta dos 40 anos de paranóia do ditador Enver Hoxha. Dado o avançado da hora, não poderíamos ir além da cidade de Shkodër, a norte, já perto da zona de guerra interdita que faz fronteira com o Kosovo, e uma das maiores cidades do país. Ter arrastado o meu companheiro até à Albânia já foi uma conquista; aguentá-lo por lá depois de o sol cair era impossível (além de que todos recomendam que se evite circular de noite por aquelas bandas).

Não me lembro de, alguma vez, ter sido surpreendida por um lugar onde tenha estado. Até chegar à Albânia. A verdade é que nunca esperei ver na Europa uma paisagem semelhante ao que só se pensa encontrar em lugares como o Haiti ou a Libéria. A partir da ponte que se vê a seguir, que é a única ligação por terra que a Albânia tem com o lado Oeste da Europa, entra-se numa outra dimensão de existênca. O que se vê por todo o lado não é só pobreza, é miséria. As pessoas (ainda que imensamente afáveis) não são magras - são esquálidas, e certamente que não só por razões genéticas. O ambiente geral, que depois descobrimos que as fotos não conseguem traduzir, é de miséria, degradação, abandono, sujidade, decadência, sendo o panorama frequentemente atravessado por imponentes e irónicos Mercedes, ícones de uma máfia florescente. Foi uma visita muito intensa, em que quase não consegui parar de chorar. Vivemos no jardim do Mundo, não tenham dúvidas disso.

Aqui ficam algumas fotos, por ordem cronológica.






Estrada internacional, que liga a fronteira à cidade.
(A Madre Teresa era de origem albanesa, por sinal, desta cidade de Shkodër.)


Mais uma paragem. Aqui, ainda eu me ria, divertida com o exótico das situações.


Há muitas casas assim, tal como na Bósnia. Não tenho a certeza de que não tenha a ver com uma qualquer questão de impostos, que isenta as casas não acabadas.


Não foi tirada por mim, mas é das nossas fotos de que mais gosto.


Foi aqui que se deu o primeiro sobressalto. De repente a pacata estrada bifurcava-se: para um lado, um imprevisto bairro de ciganos romenos, a escorrer degradação, de onde logo emergiu um bando de miúdos ruidosos que cercou o carro; para o outro lado, esta inenarrável ponte, que ameaçaca desconjuntar-se imediatamente. (Aumentem a foto.)



Paisagem urbana I.



Paisagem urbana II.



Paisagem urbana III.


Paisagem urbana IV.


Muro a cercar moradia.



Depois de muito esforço, encontrámos a estrada para a outra fronteira, por onde iríamos sair.
E a estrada era assim.


Downtown.


Transporte de mercadoria (e mais Mercedes, claro).



Um dos 750 mil bunkers que o ditador espalhou pelo país, para defender o povo da invasão dos "maus". Sobram agora em todo o lado e servem para fins diversos, como se vê.



Agora, cabras.


A seguir, porcos, a caminhar sozinhos ao longo da estrada internacional, perto da fronteira.

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